CENTRO DE REPRODUÇÃO EQUINA JACOB

³STEFANI, Giselle; 4FONSECA, Flávia Crespo Vieira de Leal; ¹SÁ, Marcus André Ferreira; ¹MORAIS, Rita de Cássia Lima; ³GOMES, Diego Rodrigues; ²JACOB, Júlio Cesar Ferraz
¹Doutorando, Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, UFRRJ, bolsista CAPES; ²Prof. Departamento de Reprodução e Avaliação Animal, Instituto de Zootecnia, UFRRJ; ²Aluno de Medicina Veterinária, UFRRJ; 4Médica Veterinária Autônoma.

Palavras-chave: avaliação espermática; coleta de sêmen, qualidade seminal; andrologia

Introdução

A equinocultura no Brasil vem se desenvolvendo muito nos últimos tempos, sendo que em certos segmentos, como os esportes, possuem representatividade internacional. O uso do cavalo ocupa diretamente mais de 640 mil pessoas no país, gerando de forma indireta 3,2 milhões de empregos e movimentando um montante de 7,5 bilhões de reais por ano na economia nacional (LIMA et al., 2012).

Segundo Sullivan et al (1975) e Voss (1993) a espécie equina apresenta um dos menores índices de fertilidade, quando comparada com as demais espécies domésticas. Parte desse resultado está relacionada com o fato de que nesta espécie, não ocorreu uma seleção por fertilidade (HUGUES,1991). Além disso, muitos autores (PICKETT e VOSS 1973; GEBAUER et al., 1974, SWIESTRA et al., 1974, SIEME et al., 2004; SQUIRES e PICKETT 2011) demonstraram em seus estudos que há uma série de fatores que possuem influência na qualidade e quantidade do sêmen coletado, dentre eles: estação de monta, idade, frequência e método de coleta e manuseio de sêmen, tamanho do testículo, individualidade do garanhão, utilização de fármacos e número de montas.

O objetivo do presente estudo foi avaliar a influência do número de montas do garanhão sobre a qualidade seminal.

 

Material e Métodos

O presente experimento foi conduzido no período de julho a agosto de 2016. Sendo utilizado 1 garanhão da raça Mangalarga Marchador em idade reprodutiva e boa condição corporal localizado no Setor de Reprodução Animal do Departamento de Reprodução e Avaliação Animal do Instituto de Zootecnia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Este garanhão foi mantido em baia de alvenaria individual durante a noite e piquete durante o dia, alimentado com feno de leguminosa (Medicago sativa – alfafa) suplementados com quatro quilos de ração comercial em dois tratos diários, tendo acesso irrestrito a água e sal mineral comercial específico para equinos.

Antes do início dos procedimentos, realizou-se exame clínico andrológico de acordo com as recomendações de Kenney et al. (1975) para sêmen de garanhões, sendo o animal classificado como apto à reprodução. Para as colheitas de sêmen, utilizou-se uma vagina artificial modelo Hannover, e como manequim, uma égua estrogeinizada.

O sêmen foi coletado uma vez ao dia a cada dois dias, totalizando 8 ejaculados. Após a coleta, procedeu-se a avaliação imediata do sêmen quanto ao volume, cor, odor, aspecto, motilidade total, motilidade progressiva, vigor e concentração. As coletas foram divididas em dois grupos: grupo A n=4 (quando o garanhão realizava somente um salto no manequim) e grupo B n=4 (o garanhão realizava quatro saltos no manequim). A análise estatística foi realizada utilizando análise de variância (Tukey) com significância de 95%.

 

Resultados e Discussão

Os resultados foram expressos em médias para os dois grupos: grupo A volume total de 14,15 ml, volume do gel 1,25 ml, volume seminal filtrado 12,9 ml, aspecto branco leitoso, odor sui generis, motilidade 81% com movimento progressivo, vigor 3,75 , concentração 601,75 x 106 espermartozóides/ml, teste hiposmótico 75,38%, número de doses 8,95 e patologia total 41,38%, enquanto que para o grupo B volume total 12,95 ml, volume de gel 0 ml, volume seminal filtrado 12,95 ml, aspecto branco leitoso, odor suis generis, motilidade 79% om movimento progressivo , vigor 3,5, concentração  456,5 x 106 espermatozóides/ml, teste hiposmótico 70%, número de doses 6,55 e patologia total 38%.  Após a análise de variância (Tukey) com significância de 95% não foi observada diferença estatística (p>0,05).

Em um estudo realizado por Echte (2001) foi detectado uma correlação significativa (P <0,05) entre o volume e o número de saltos antes da ejaculação e comportamento de acasalamento, sendo observado um aumento significativo do volume em correlação com o número de montas sobre o manequim. Sieme et al (2004) também encontraram um aumento de volume quando os garanhões montaram mais de três vezes antes da ejaculação. Entretanto, Gamboa et al (2009) não observaram diferença entre os ejaculados de cavalos da Raça Puro Sangue Lusitano com o aumento do número de montas, assim como no presente trabalho.

Semelhante ao presente estudo, Dirscherl (2011) não observou diferença estatística entre os grupos analisados apesar de ter sido encontrado um maior volume seminal (63ml ± 27) nas coletas em que os garanhões realizavam 4 montas em comparação ao grupo que realizava apenas uma monta (48ml ± 13) sobre o manequim, entretanto sua concentração diminuiu o que pode ser explicado pelo aumento de volume.  Entretanto, a motilidade espermática reduziu com o aumento do número de saltos, o que não foi observado neste trabalho assim como por Echte (2001). Portanto as diferenças encontradas nas diferentes pesquisas pode estar relacionada com a individualidade do garanhão, assim como na raça trabalhada.

 

Conclusão

Conclui-se que sob as condições que o presente estudo foi realizado com este garanhão o número de saltos sobre o manequim não influenciou na qualidade espermática.

 

Referências Bibliográficas

DIRSCHERL, F. K. M.: Effects of semen collection practices on the bacterial load of stallion semen. Hanover, Thesis, 2011.

ECHTE, A.-F.: Analysis of fertility affecting spermatological parameters with respect to frequency of semen collection and season in stallions. Hannover, Tierärztliche Hochschule, Dissertation, 2001.

GAMBOA, S., MACHADO-FARIA, M.; RAMALHO-SANTOS, J.: Seminal traits, suitability for semen preservation and fertility in the native Portuguese horse breeds Puro Sangue Lusitano and Sorraia: Implications for stallion classification and assisted reproduction. Anim Reprod Sci.; 113(1-4); 102-113, 2009.

GEBAUER, M.R., B.W. PICKETT, J.L. VOSS and E.E. SWIERSTA: Reproductive physiology of the stallion: Daily sperm output and testicular measurements. J. Am. Vet. Med. Assoc., 165; 711-713, 1974.

HUGUES, J.P. Curso de Eqüinos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL, 9, 1991, Belo Horizonte. Anais… Belo Horizonte : CBRA, 1991.

LIMA, R. A. S.; OLIVEIRA, R. A. MENDES, C. Q.; JÚNIOR, P. G. Perfil e Tendências da Equideocultura Brasileira. Anais da 49ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. A produção animal no mundo em transformação. Brasília, 23 a 26 de julho de 2012.

PICKETT, B. W. and VOSS, J.L.: Reproductive management of the stallion. Colo. State Univ. Exp. Sta. Anita. Reprod. Lab. General Series 934, 1973.

SIEME, H.; KATILA, T.; KLUG, E.: Effect of semen collection practices on sperm characteristics before and after storage and on fertility of stallions. Theriogenology 61; 769-784, 2004.

SQUIRES, E. L.; PICKETT, B.W.: Factors affecting sperm production and output. Equine reproduction, Volume 1, Chapter 133; 1344-1361, 2011.

SULLIVAN, J.J.; TURNER, P.C.; SELF, L.C., et al. Survey of reproductive efficiency in the quarter horse and thoroughbred. J Reprod Fertil, Supl.23, p.315-318, 1975.

SWIESTRA, E.E.; GERBAUER, M.R.; PICKETT, B.W.: Reproductive physiology of the stallion. Spermatogenesis and testis composition. J. Reprod. Fertil. 40, 113-123, 1974.

VOSS, J.L. Breeding Efficiency. In: McKINNOW, A.O., VOSS, J.L. Equine reproduction. Phyladelphya : Lea & Febiger. 1114p, 1993.

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