CENTRO DE REPRODUÇÃO EQUINA JACOB

Resumo produzido a partir da palestra do Prof. Carlos Augusto Brandão de Carvalho realizada no dia 16/06/20 em nosso Instagram (@equinojacob)

No Brasil, cerca de 162,5 milhões de hectares são destinados a pastagens, sendo que destes: 26% são pastagens nativas e 74% são pastagens cultivadas. Dentre as pastagens cultivadas, a maior parte (85%) é composta por Brachiaria e Urochloa. Os 15% restantes são divididos entre Panicum/Megatyrsus, Andropogon, Cynodon, Pennisetum entre outras variedades, porém a quantidade exata de cada um não é bem estabelecida.

Dentre as gramíneas conhecidas, aquelas dos gêneros Cynodon (Bermudas como Tifton, por exemplo e Estrelas como a Estrela roxa e a Estrela Africana) e Digitaria são bastante utilizadas em pastagens para equídeos.

Os integrantes do gênero Digitaria mais comuns são os cultivares Pangola e Transvala, entretanto, são pouco utilizados atualmente devido suas suceptibilidades diversas em ambientes de pastagens.

Tifton-85: Cynodon spp. cv. Tifton-85

É um híbrido das espécies Cynodon nlemfuensis (Tifton 68) e Cynodon dactylon (PI 290884) com origem nos Estados Unidos. Foi introduzido no Brasil na década de 90 e até hoje é uma das gramíneas mais utilizadas no Brasil.
Características: colmo e folhas de cor verde escura, é mais exigente em fertilidade que as demais e possui alta produção com elevado valor nutritivo, alta massa foliar e quando bem formada e manejada, proporciona boa cobertura do solo.
Manejo: Altura: 25 cm de entrada e 10 a 15 cm de saída, com uma produção média de 15 a 20 t./ha/ano MS sendo 15 a 20% de Proteína Bruta (PB) na Massa seca (MS).  
– Utilização: equídeos, bovinos, ovinos e caprinos

Coastcross: Cynodon dactylon cv. Coastcross

É um híbrido do Cynodon dactylon cv. Coastal bermuda com Cynodon nlemfuensis cv. Robusto, também originário dos EUA. Forrageira de amplo uso no Brasil, uma boa característica é a alta produção de massa seca, inclusive maior que a do Tifton.
– Características: possui alta produção de forragem, colmos macios, folhas macias e pilosas. É exigente em fertilidade, não tolera solos ácidos, pobres em nutrientes e mal drenados. Contudo, apresenta boa resistência ao pastejo e é indicada para produção de feno. O corte ideal é entre 30 a 40 cm, deixando um resíduo de 5cm.
– Manejo: altura de 30 cm de entrada e 13 a 20 cm de saída, com uma produção média de 15 a 25 t./ha/ano MS e 15 a 18% PB na MS
– Utilização: equídeos, bovinos, ovinos e caprinos

Florakirk: Cynodon sp. cv. Florakirk

Híbrido de Tifton 44 com Callie, conhecido como grama-bermuda. Foi criado nos EUA em 1994 e lançado no Brasil de maneira não oficial também na década de 90.
– Características: de porte médio, essa forrageira possui alta produção e qualidade de forragem. Originalmente foi lançada para produção de feno, mas também pode ser utilizada para pastejo. É exigente em fertilidade do solo, mas possui boa tolerância a solos mal drenados quando comparada às demais gramas bermuda.
– Manejo: altura de 25 cm na entrada e 10 a 15 cm na saída, com produção média de 10 a 20 t./ha/ano MS sendo 10 a 16% PB na MS
– Utilização: equídeos, bovinos, ovinos e caprinos

Jiggs: Cynodon dactylon cv. Jiggs

Foi selecionada originalmente por um fazendeiro do Texas (EUA) e desenvolvido na Texas A&M University.
– Características: vegeta bem em solos pobres e possui alto potencial produtivo para pastejo e fenação. Seu corte ideal é entre 30 e 40 cm deixando um resíduo de 5cm. Possui elevada capacidade de suporte em períodos prolongados de estiagem, tendo maior crescimento que os demais cultivares de bermuda nestes períodos e apresenta alto potencial de adaptação às condições climáticas brasileiras, sendo uma ótima opção de cultivo.
– Manejo: Altura de 25 cm na entrada e 10 a 15 cm na saída, com uma produção média de 15 a 20 t./ha/ano MS sendo 15 a 20% PB na MS
– Utilização: equídeos, bovinos, ovinos e caprinos

Estrela roxa/estrela de Porto Rico/Florico – Cynodon nelemfuensis cv. Florico

Introduzida em 1957 em Porto Rico, foi introduzida no Brasil no final da década de 90. Uma grande vantagem dessa forrageira é sua adaptabilidade às regiões tropicais.
– Características: porte elevado e aspecto grosseiro, cor verde escura com tom avermelhado em seus colmos e folhas, inflorescência de cor roxa acentuada ou avermelhada.
– Manejo: altura de 40 cm na entrada e 18 a 25 cm na saída, com produção média de 10 a 25 t./ha/ano MS sendo 12 a 18% PB na MS
– Utilização: equídeos, bovinos, ovinos e caprinos

Estrela africana – Cynodon plectostachyus

– Características: é uma forrageira de crescimento prostrado e extremamente agressiva com crescimento rápido apesar de ser exigente em fertilidade. É ideal para pastejo e possui boa aceitabilidade por equinos, porém é menos indicada quando comparada à estrela roxa. Tolera bem curtos períodos de encharcamento do solo, entretanto se desenvolve melhor em solos bem drenados e férteis.
– Manejo: altura de 45 cm na entrada e 20 a 27 cm na saída com produção média de 15 a 27 t./ha/ano MS, sendo 8 a 17% PB na MS
– Utilização: equídeos, bovinos, ovinos e caprinos

Capim Vaquero: Cynodon dactylon (70% cv. CD 90160 e 30% cv. Bermudagrass)

Originária da Flórida (EUA), é uma forrageira ideal para clima quente e temperado com alta produção de forragem e excelente aceitabilidade.
– Características: sua propagação se dá por sementes o que confere algumas vantagens, como o menor custo com mão-de-obra, facilidade e rapidez de estabelecimento no solo, consegue se fixar em solos de elevada declividade e pode ser utilizada em pasto consorciado. É o único cultivar lançado com propagação por sementes. Possui alta comercialização no Brasil. O problema desta forrageira está no vigor de rebrota pós pastejo ou corte que é baixo.
– Manejo: altura de 30 cm na entrada e 13 a 20 cm na saída, com produção média de 15 a 25 t./ha/ano MS sendo 10 a 16% PB na MS
– Utilização: equídeos, bovinos, ovinos e caprinos

Características de adaptação de plantas do gênero Cynodon no Brasil (RUGGIERI, 2015)

Principais etapas para formação de pastagens com forrageiras dos gêneros Cynodon e Digitaria

  1. Planejamento
    – Levantamento da área e escolha da forrageira: dimensionamento e descrição da área (medição, declividade, umidade, cobertura vegetal – forrageiras e/ou invasoras e controle), ocorrência e controle de pragas e histórico; Avaliação da fertilidade do solo (análise química de solo); Adaptação Edafoclimática da Forrageira (exigências e restrições das plantas forrageiras); Forma de “propagação” da forrageira (sementes ou mudas); Objetivo de Produtor (espécie e/ou categoria animal a ser alimentada na pastagem); Aquisição de mudas ou sementes.
    Dois aplicativos muito utilizados no levantamento da área são o Google Earth Pro e o AutoCad.
    – Declividade da área: capins com boa cobertura de solo são os mais indicados para terrenos com maiores índices de declividade, uma vez que auxiliam na prevenção à erosão do solo (Tifton-85 e Digitaria Coastcross são boas opções para terrenos com mais de 20% de declividade).
    – Umidade da área: saber se o solo é passível de encharcamento ou não é importante ao se planejar qual espécie forrageira plantar. O Tifton-85, por exemplo, se dá bem em ambas as condições, porém Jiggs e Coastcross-1 se saem melhor em solos não hidromórficos (sem encharcamento).
    – Cobertura vegetal e histórico: é importante identificar as possíveis espécies invasoras, proporções na área e as formas de controle (físico ou químico).
    – Controle de pragas: as principais pragas existentes são os cupins de montículo e formiga cortadeira. É importante ressaltar que em relação aos cupinzeiros, deve-se antes fazer o controle químico, para só então destruir o montículo, caso contrário, os insetos pdem se espalhar mais ainda pelo pasto agravando a situação.
    – Avaliação química da fertilidade do solo: é feita uma amostragem em etapas, desde a coleta e envio das amostras até o recebimento e interpretação dos resultados por um técnico competente. A partir daí, pode-se partir para a calagem e adubação de acordo com a necessidade real daquele terreno.
    – Adaptação edafoclimática da forrageira: a depender da característica da área, há certas exigências e restrições de crescimento por parte da planta. Em áreas sujeitas a secas prolongadas, por exemplo, o mais indicado é o plantio de Jiggs e Estrela-Africana. Já em áreas de baixadas, mal drenadas e úmidas, a indicação é que se cultive Tifton-85 e Florakirk.
    – Forma de propagação da forrageira: a propagação da forrageira pode ser por sementes ou mudas, sendo que a primeira oferece baixo custo de mão de obra e menor complexidade em relação ao plantio quando comparada à muda. Essa escolha dependerá, no entanto, dos objetivos do produtos, da espécie e/ou categoria animal a ser alimentada na pastagem, mão de obra e maquinário disponível, dentre outros aspectos.
    – Aquisição de mudas para plantio: é importante avaliar a qualidade das mudas no momento da compra, principalmente em relação a idade (3-6 meses).

  2. Calagem, preparo e fertilização do solo
Exigência em calagem de acordo com a espécie forrageira e leguminosa

– Abertura de sulcos e adubação fosfatada
Sulcos: 0,5m entre eles com 7 a 10 cm de profundidade (textura do solo). O momento para fazer os sulcos é o mais próximo possível ao plantio.
Adubação fosfatada: tem grande importância no estabelecimento da planta. Deve ser distribuída no fundo dos sulcos e misturada à terra o mais próximo possível ao plantio. Pode-se utilizar adubos comerciais a base de superfosfato simples ou triplo. Veja abaixo a relação de teor de fósforo (P) no solo e a dose a ser utilizada do adubo, sendo que este teor é aquele dado após a análise de solo.

3- Adubações de formação (em cobertura)
Essa etapa é extremamente importante para o desenvolvimento e crescimento das forrageiras, podendo ser feita a adubação nitrogenada (N) e potássica (K2O). Em caso de adubação conjunta, pode-se fazer da seguinte maneira:
– 1ª (1/3 da recomendação): 20 dias (3 semanas) após semeio/plantio;
– 2ª (2/3 da recomendação): 40 dias (6 semanas) após semeio/plantio

4- Controle de plantas invasoras/daninhas e pragas pós plantio
O controle de plantas invasoras pode ser feito via roçada manual ou mecanizada, ou ainda, por meio de uso de herbicidas pós emergentes, de contato ou sistêmicos específicos.
Já para pragas, há algumas alternativas de controle biológico como o uso de extratos e/ou fungos, como o Dipel por exemplo, que atua principalmente contra lagarta. Para o controle químico, pode-se utilizar alguns inseticidas específicos disponíveis no mercado.

MANEJO DE PASTAGENS DO GÊNERO Cynodon SOB PASTEJO DE EQUÍDEOS

 Cronograma anual da Região Sudeste
Análise química de terra: abril;
Calagem: em cobertura e a lanço, em única aplicação (maio);
Adubação Fosfatada: A lanço, em cobertura, em única aplicação (outubro);
Adubações Nitrogenada e Potássica: 3 a 8 parcelas anuais no período chuvoso, a lanço, em cobertura;
Mecanizada ou manual? depende da operacionalidade.

Cálculo da quantidade de animais e áreas necessárias dos pastos:

Com base na capacidade de suporte dos pastos (UA/ha):
Exemplo:
Tifton-85 intensivo (calagem + aduções de formação e manutenção) = 3 a 4 UA/ha.
20 éguas paridas x 1,5 UA/égua = 30 UA
Área de pasto = 30 UA / 3,5 UA/ha = 8,7 ha (manejados sob lotação contínua ou rotacionada)

É importante destacar que equinos têm uma demanda alta de área de pastejo, portanto, estabelecer um pasto com Cynodon deve ser de maneira cuidadosa e bem manejada para valer a pena em relação ao custo/benefício. Ainda assim, o custo por animal/ano sob sistema de pastejo sai mais barato do que manter o animal estabulado a base de feno, por exemplo.

Para escolher o que fazer, o criador deve levar em consideração o tipo de criação, o objetivo daquela criação, as espécies e categorias de animais que serão criados e a mão de obra disponível.

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