CENTRO DE REPRODUÇÃO EQUINA JACOB

Marcus André Ferreira Sá1; Marcely Karoline da Conceição Ecker2;

Priscilla Nascimento Guasti1; Julio César Ferraz Jacob3

 

1. Discente do Curso de Medicina Veterinária; 2. Bolsista de Iniciação Científica PROIC/UFRuralRJ, Discente do Curso de Medicina Veterinária; 3. Professor da UFRRJ – Instituto de Zootecnia – DRAA.

Palavras-chaves: folículo, égua, ciclo estral, ultra-som, idade

Introdução

A disfunção ovariana tem sido responsabilizada como causa do decréscimo da eficiência reprodutiva em éguas idosas (WESSON & GINTHER, 1981). Esses autores observaram que o número de folículos ovarianos de 2 a 10 mm de diâmetro foi significativamente menor em éguas pôneis idosas (≥ 15 anos de idade), quando comparado ao de éguas jovens e de meia idade (6 a 15 anos de idade). Além disso, cinco éguas com idade entre 17 e 25 anos apresentaram atrofia ovariana caracterizada pela ausência de atividade folicular e/ou corpo lúteo (WESSON & GINTHER, 1981). Em outro estudo, CARNEVALE et al. (1993) observaram que éguas idosas (acima de 20 anos) apresentaram, além de um menor número de folículos, menor taxa de crescimento do folículo ovulatório e intervalo interovulatório (IIO) prolongado. Com o avançar da idade, fêmeas mamíferas apresentam um declínio gradativo da capacidade reprodutiva. Os mecanismos envolvidos na regulação do envelhecimento ovariano em animais senis, e na mulher durante o período da menopausa permanecem obscuros (BELLINO, 2000). A duração do intervalo interovulatório não variou com a idade, quando comparou-se vacas (13 a 14 anos de idade) com suas filhas (1 a 4 anos de idade) (MALHI et al., 2005). O efeito da idade sobre a atividade ovariana tem sido caracterizado também, pelo decréscimo do volume ovariano, pela redução do número de folículos antrais, e pela menor vascularização do estroma intra-ovariano (KUPESIC et al., 2003). O objetivo desse trabalho foi estudar a população folicular de éguas, de diferentes idades, durante o ciclo estral.

Material e Métodos

Éguas mestiças de pôneis, não lactantes, (n=24) em boa condição corporal foram usadas durante a estação ovulatória. Os animais foram mantidos sob luz natural em piquetes ao ar livre e alimentação adequada. As éguas foram distribuídas em três grupos experimentais com oito animais cada, de acordo com a idade: a) jovens (5-6 anos), b) intermediárias (10-14 anos), c) velhas (≥ 18 anos). O exame ultra-sonográfico B-mode foi realizado diariamente do dia 15 até o quarto dia após a segunda ovulação, utilizando-se uma probe linear, com transdutor de 5 MHz (ALOKA 900). Folículos com diâmetros ≥ 15 mm foram mensurados (média da altura e largura) estimando-se o diâmetro de todos os outros folículos (≥ 2,0 mm e < 15,0 mm) através da utilização de uma transparência quadriculada (5 x 5mm) por cima da tela do Ultra-som. Os diâmetros estimados e mensurados de todos os folículos foram usados para determinar a classe à qual pertenciam, a saber: a) 2-5 mm, b) 5,1-10 mm , c) 10,1-15 mm, d) 15,1-20 mm, e) 20,1-25 mm, e f) ≥ 25,1 mm. O período interovulatório (PIO) para cada égua foi normalizado para uma duração média do período interovulatório das éguas (23 d; variação de 19 a 27 dias; BERGFELT, 1993). O procedimento para a normalização foi feito da seguinte forma: a) para éguas com intervalo (PIO) mais longo do que a média, os dias excedentes foram sorteados e deletados; b) para éguas com intervalos mais curtos que a média, os dias que faltavam para a média foram sorteados e incluídos; c) os valores dos dias inseridos foram considerados como dados perdidos; d) dias deletados ou inseridos não foram utilizados nem os primeiros quatro dias do ciclo nem os quatro dias que precederam a ovulação, assim como para dias consecutivos para determinada égua. Assim utilizou-se do 5º ao 18º dia após a ovulação, logo o perfil diário das avaliações (população folicular, e classes foliculares) para cada égua e o perfil significa a média normalizada da duração do período interovulatório (PIO).

Resultados e Discussão

A duração do PIO para éguas jovens, com idade intermediária e velhas foi de 22.6 ± 0.48, 22.4 ± 0.38, e 23.9 ± 0.55 dias, respectivamente (P = 0.06). Observa-se na Tabela 1 que houve efeito de grupo (P<0,05) sobre o número total de folículos, durante o ciclo estral. O número de folículos dentro de cada classe folicular diferiu (P<0,05) entre os grupos etários nas classes de 5.1 a 10 mm e 15.1 – 20 mm, no ciclo estral.. Para as outras classes foliculares não encontrou-se diferenças (P>0,05) entre os grupos de idade. Observa-se na Tabela 1 que a duração do ciclo estral não foi influenciada (P>0,05) pela idade das éguas. Diferentemente, Carnevalle (1993) encontrou intervalos de 23.9 ± 0.6, 23.0 ± 0.8 e 26.5 ± 0.7 dias para éguas jovens, com idade intermediária e velhas, respectivamente. Quanto à classe folicular, observa-se na Tabela 1, que durante o ciclo estral, éguas velhas diferiram das jovens e intermediárias no que se refere ao menor número de folículos de 5,1 a 10 e 15,1 – 20 mm de diâmetro. WESSON & GINTHER (1981) examinando éguas pônei em matadouro, o número de folículos de 2 a 10 mm e de 11 a 20 mm de diâmetro foi significativamente menor em éguas velhas mais de 15 anos comparadas ao de éguas de 6 a 15 anos de idade.

Conclusão

Embora haja algumas diferenças entre os grupos etários, quanto à população folicular e classe folicular, observou-se que a duração do ciclo estral e atividade folicular foram mantidas
em éguas velhas.
Tabela 1. Duração do ciclo, população folicular e número de folículos por classe folicular em éguas de diferentes faixas etárias durante o ciclo estral.
Jovens Intermediárias Velhas Valor de P
Duração do ciclo 22,6 22,4 23,9 NS*
População folicular 43,8ab 44,3a 41,4b 0,0152
Fol** 2 a 5 mm 25,9 27,2 28,4 NS
5,1 a 10mm 10,4a 9,7a 8,1b <0,0001 10,1 a 15mm 3,8 3,8 2,8 NS 15,1 a 20mm 2,2a 2,3a 1,2b 0,0045 20 a 25mm 0,8 0,7 0,4 NS >25mm 0,5 0,4 0,3 NS
*NS- não significante/ **Fol – folículos
a, b Letras sobrescritas representem diferença significativa dos valores

Referência Bibliográfica

BELLINO, F.L. Biology of menopause. New York: Springer-Verlag; 2. ed, 2000.

BERGFELT, D.R.; GINTHER, O.J. Synchronous fluctuations of LH and FSH in plasma samples collected daily during the estrous cycle in mares. Theriogenology, Florida, v. 40, p. 1137-1146, 1993.

CARNEVALLE, E.M.; BERGFELT, D.R.; GINTHER, O.J. Aging effects on follicular activity and concentrations of FSH, LH, and progesterone in mares. Anim, Reprod, Sci, v. 31, p. 287-299, 1993.

KUPESIC, S.; KURJAK, A.; BJELOS, D.; VUJISIC, S. Three-dimensional ultrasonographic ovarian measurements and in vitro fertilization outcome are related to age. Fertility and Sterility, v. 79, n. 1, p. 190-197, 2003.

MALHI, P.S.; ADAMS, G.P.; SINGH, J. Bovine model for the study of reproduction aging in Women: follicular, luteal, and endocrine characteristics. Biol. Reprod., v. 73, p. 45-53, 2005.

WESSON, J.A.; GINTHER, O.J. Influence of season and age on reproductive activity in pony mares on the basis of a slaughterhouse survey. J. Anim. Sci., v. 52, p. 119-129,1981.

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